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Houve, de cada lado, dois simulacros do amor. Ambos fogosos, mas que não levaram a lugar nenhum. Mantinham contato telefônico diário. Costumavam trocar presentes, Da dúzia de cartas que escreveu, Sofia chegou a enviar-lhe oito; as outras quatro leu pessoalmente para ele quando voltaram a viver juntos. Viam-se uma a três vezes a cada quinze dias, quase sempre na casa de Sofia. Os encontros, marcados por essa estranha forma de anormalidade que supõe enganar uma amante de dias com uma esposa de anos, desembocavam em longos certames confessionais (Rimini por fim chorava) ou em sessões de amor vulcânicas em que aproveitavam para mostrar os truques aprendidos longe do outro.
Não havia rupturas. Nada havia murchado. Passavam longas temporadas sem fazer amor, é verdade, mas nem mesmo a palavra “deterioração” parecia oportuna: o sexo nunca tivera uma importância especial para eles. (…) “Somos uma obra de arte”.