Um presente. “Prefiro não!”. Seria o aviso que Marcos não leu.
Antíteses compostas por tiras de papéis que revelavam o grande Bartleby. Em cada tira uma palavra, uma frase, um elogio, uma situação, memórias, lembranças… Os papéis formavam um instante barroco o qual Marcos gostava de visitar. Poderia preferir não, mas não.
Quando a memória tentava subtrair na busca de espaços para novos somar, ele abria a caixa e aleatoriamente sorteava um papel. Era a tentativa de recuperar aquilo que se perdeu e ele não entendeu. Marina fingiu não saber que aquele embuste todo oferecia frutos. Marcos almejava conhecer a razão pela qual foi escolhido para colher aqueles frutos e principalmente, por qual motivo ele ficara apenas com os podres e envenenados.
“ Pessoa mais que especial” – ” Inteligente!” – “Meu vício” – ” Piolla” – “Preto, Vermelho,…” – “Meu nome não é …”
” Amor”(e mais uma infinidade de palavras que pertenciam a eles)
….
A cada leitura a procura de entendimento. Desejava desmascarar, sem testemunhas, aquela que levou o seu amor e no lugar deixou apenas a dor. Sem sucesso, abandonava a ideia e a caixa era fechada.
Após um longo tempo sem recorrer a caixa procurou-a para, como de costume, sortear uma lembrança. (Como se todas as diárias já não lhe bastassem.)
Procurou. Procurou. Não encontrou.
Não sabia ele que aquela pequena caixa D. Vera limpou e as lembranças para o lixo mandou. Marcos não reclamou, som suas mágoas ficou e a caixa vazia guardou.
– Babaca! – ele pensou. Como demorou a perceber…
Bartleby tentou anunciar mas, apaixonado que estava, não quis escutar.
” Inteligente: Prefiro Não”
“Amor: Prefiro Não”
“Meu Vício: Prefiro Não”
…. (qualquer coisa) Prefiro Não!
Prefiro Não! Ela Preferiu NÃO…
Sorriu. Estava a encontrar a felicidade por meio do desenrolar da dor e agora chafurdava-se em emoções sem traduções. Seu momento era de urgência e sem paciência mergulhava em profundos sonos, acompanhados de rivotril, sem sonhos. Sonhar é perigoso, dizia.
Abraços,
Sofia Aimée