Mês: fevereiro 2012

Escrever II

Vivia a procura de algo que lhe permitisse escapar da inércia  em que estava, escrever e ler eram os meios para isso. Depois de escrever leria aquelas palavras para si. Como que se ao pronunciá-las em alto e bom som elas se tornassem verdadeiras. Não eram, nunca são.

Marcos continuava parado em frente a tela de computador, olhando para todas aquelas palavras. Palavras que dispostas na tela em branco tinham a pretensão de dizer algo. Diziam? A quem?

Muitas eram as pessoas que, ao lerem aquelas letras amontoadas, tentavam descobrir como ele estava. Estaria namorando? Casado? Feliz? E o trabalho? A filha? Queriam era fofocar, afinal as pessoas, por algum motivo desconhecido, adoram saber da vida do outro. Não existe uma explicação.

Já Marcos tinha repúdio a isso, era tão egoísta que preferia permanecer imerso no barulho de seus medos, angústias e tristezas a ter que ouvir o som abafado da felicidade alheia. Não queria saber dos outros, queria se afundar em si, fugindo das pessoas e do mundo. Abandonando a chance de vivenciar aquelas situações que diariamente o perseguiam, fazendo com que dia após dia ele reduzisse seu desejo de conhecer pessoas novas, pessoas iguais, tenebrosas em sua ignorância, assustadoras em seus gostos, decepcionantes em seus ideais e desprezíveis em sua essência. Estava cansado desses infortúnios cotidianos. Seguia eliminando seus vínculos, deletando tudo quanto podia, tornando-se uma pessoa incomunicável, sem celular, sem e-mail, sem endereço fixo e principalmente sem qualquer rede social, social? Não! Queria apenas se esconder atrás das palavras, por meio das quais ele dissimulava, confundia e  libertava-se.

(continua…)

Abraços,

Sofia Aimée