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Palavras. Você.

Sento-me em minha poltrona, aquela com manta azul e cheiro de erva-doce. Ritual que se inicia toda vez que estou frente a vontade e a necessidade de escrever,  acompanhada também de minha eterna incapacidade de fazer com que as palavras me libertem, já que elas constantemente me prendem em uma teia da qual não consigo me desvencilhar.

Escrever. Letras, fonemas, palavras, frases, períodos e orações. Algumas linhas formando parágrafos preenchem páginas e formam textos, tirando o amarelo das páginas vazias, é a tinta azul que mancha a folha. Cumplicidade silenciosa nesta folha sem linhas, é a liberdade condicionada de um pequeno moleskine que nunca me deixa desacompanhada.

A cada frase a carga de um sentimento, esses que não conseguem dizer adeus sem que em mim fiquem seus vestígios. Tudo, sem exceção, deixa rastros. Sou eu retida nestas páginas ou apenas minhas frivolidades eternizadas? São apenas escritos, tão particulares, que jamais serão proferidos ou lidos por qualquer outro a não ser a mim.

Se, por um acidente, um alguém tomar conhecimento do conteúdo deste conjunto de folhas, será por minhas palavras contaminado, por minha loucura tomado, por seu brilho cegado, por sua força ferido e pelo meu lirismo instigado.

Minhas palavras, não essas, mas aquelas mais íntimas, não serão jamais submetidas a esta tela em branco do computador. Não suportaria imaginar algo tão valioso a mim caindo nesse emaranhado da rede sem fio, sendo lido por pessoas de alma tão pequena. O contato com minhas palavras é um privilégio, entende? Não quero leituras superficiais ou críticas banais.

O que falo aqui é do meu anseio de comunicação. Quero e preciso me comunicar com você. Você que nem sei se ainda me lê, você que talvez não saiba entender, você que finge me esquecer, você que das palavras se esvaiu e apenas com seu silêncio me presenteou. Então, se  não é para você me ler, prefiro no escuro me esconder. Será que não vê que se coloco aqui minhas palavras é na tentativa de facilitar as coisas para você? Quem sabe lendo-as deixe de ser esse eterno babaca, pega a merda desse telefone ao lado e me telefona. Ilusão, eu sei. Decifra-me em cada letra, decodifique meus sinais, são todos para ti. Descubra quem sou. Sou aquilo que restou depois que em minha vida você entrou. Você que a mim foi um nada! Um nada que resistiu, que muito destruiu e nada construiu.

Por fim, desculpe se muito escrevi e pouco te esclareci, foi a tentativa de suas reticências completar e de com palavras exorcizar. Minhas palavras são para você, você que jamais soube me amar.  

Abraços,

Sofia Aimée